domingo, 7 de dezembro de 2014

Esboço Bíblico de Charles Spurgeon


 
A MORTE DE CRISTO

POR SEU POVO

 

"Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho: mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.” (Isaías 53.6).

 

Há uma confissão geral de pecados neste versículo. Todo o povo de Deus fala assim. Estas pessoas escolhidas dirão: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas".

Há também uma confissão pessoal aqui. Cada um pode dizer para si próprio: "Eu me desviava pelo caminho". Todos pecam, mas de maneiras diferentes. Todos nós sabemos em nosso próprio coração os modos pelos quais pecamos. Uma outra pessoa peca de forma totalmente diversa. Estes homens que confessam seus peca­dos aqui não dão nenhuma desculpa para seu pecado. Pecadores juntos ou separadamente, eles sabem que são culpados perante Deus. Não há nenhuma desculpa que possam dar pelo seu pecado.

A terceira parte de nosso texto está repleto de consolo. "... o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos." Estas palavras nos dizem que há misericórdia para o homem que está infeliz porque ele sabe que é um pecador. A morte de Cristo traz cura para os corações despedaçados; eles podem saber que seus pecados foram posto sobre Cristo.

Vamos refletir a respeito da passagem acima de três maneiras. Primeiro, explicaremos a verdade que ela contém. Segundo, apli­caremos essa verdade aos nossos corações. E terceiro, meditaremos sobre a verdade que estamos considerando.

 

1.   O ensinamento do texto é:

 

(I). O pecado está por toda parte do mundo. Encontra-se nos corações de todos os homens. Há o pecado do passado; o pecado do presente; e o pecado do futuro. A idéia do texto é que todos os pecados do povo de Deus foram reunidos e colocados em Cristo. Há o pecado do povo escolhido de Deus entre os incrédulos que ouvirão a respeito de Deus; e há o pecado do povo judeu que crerá. Como é pesada a carga de pecado quando tudo isto é colocado junto! Esta carga pesada caiu sobre Cristo.

 

(II). Devemos lembrar-nos que Cristo em Si não tinha peca­do. Quando nosso pecado caiu sobre Ele, Ele sofreu, sendo inocente em Si mesmo. Éramos pecadores — ele estava sem pecado. Ele sofreu por nós como um substituto inocente. "... ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is. 53:5). "... mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos."

Se o Senhor Jesus tivesse sido um pecador, Ele não poderia ter suportado o pecado de Seu povo. Ele era santo em Sua natureza divina. Ele era santo em Sua natureza humana, também. Por ter nascido de uma virgem, de forma miraculosa, Ele estava livre do pecado original com que todos os homens nascem. Sendo o imaculado, o santo cordeiro de Deus, Ele podia ficar no lugar dos homens pecadores. Era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Ninguém a não ser Ele podia suportar o pecado de Seu povo. Nunca poderemos realmente entender como o pecado de todo o povo de Deus caiu sobre a cabeça de Cristo. A Bíblia diz: "... ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Cor 5:21).

Esta verdade é tão maravilhosa que é muito difícil expressá-la em palavras. A Bíblia diz: "... as iniquidades deles levará sobre si" (Is. 53:11). Assim Ele fez, e portanto Seu povo agora está liberto das terríveis consequências de seu pecado.

 

(III). Algumas pessoas perguntam se era certo que nosso pecado caísse sobre Cristo. Minha resposta é que há quatro razões pelas quais isso era certo:

a) Deus só pode fazer o que é certo. Foi Ele quem fez cair sobre Cristo "a iniquidade de nós todos". Se questionarmos a equidade disso, questionaremos a justiça de Deus. E Deus, o criador de todas as coisas, não pode ser injusto.

b) Lembrem-se de que Jesus Cristo não foi forçado a receber nosso pecado sobre Si. Ele escolheu carregar nossos pecados "em seu corpo, sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24). Ele disse: "Ninguém a tira (minha vida) de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou" (João 10:18). A morte de Cristo na cruz levou a efeito o acordo que Ele tinha feito espontaneamente com seu Pai, na eternidade. Este acordo, ou aliança, era que Cristo deveria vir à terra, nascer como um homem e morrer para salvar Seu povo de seu pecado.

c) Às vezes esquecemos que a relação entre Cristo e Seu povo tornou natural o fato de que Ele deveria carregar o pecado de Seu povo. Nosso texto nos diz que andávamos desgarrados como ovelhas, e não é Cristo nosso Pastor? Às vezes, fala-se de Cristo como o marido de Seu povo, da Igreja. Se uma mulher contrai uma dívida, é legal que seu marido pague essa dívida a fim de que ela fique livre. Assim, não seria justo que Cristo, nosso Pastor, nosso Marido, pagasse nossa dívida por nós, de maneira que nós, Seu povo, ficássemos livres? Nos tempos bíblicos, o parente mais próximo tinha que redimir a herança da família. É muito justo que o Senhor Jesus Cristo, nosso parente mais próximo, devesse redimir Sua Igreja mor­rendo por ela na cruz. Entretanto nossa união com Cristo é ainda mais íntima do que a união matrimonial. Somos membros de Seu corpo! É natural que Cristo, a Cabeça, devesse sofrer pela Igreja, Seu corpo.

d) Devemos lembrar também que a salvação nos vem de uma maneira semelhante ao modo pelo qual o pecado veio a nós. A razão por que pecamos encontra-se no fato de que o primeiro homem, Adão, pecou muito antes que tivéssemos nascido. Agora, todos os que descendem dele herdaram sua natureza pecaminosa. Nossa salvação en­contra-se no segundo Adão que morreu por nós, também muito antes que tivéssemos nascido. Agora, todos os que estão unidos a Cristo pela fé recebem Sua vida santa. Não é injusto que Deus tivesse um plano de salvação baseado numa relação estabelecida primeiro com Adão, e depois com Cristo. Este é o maravilhoso modo de salvação provinda de Deus. Vamos recebê-la com exultação!

 

(IV). Quando Cristo morreu por Seu povo na cruz, Ele assu­miu todas as consequências do pecado dele em Si próprio. Jesus Cristo era o Filho amado de Deus. Mas quando nossos pecados caíram sobre Ele, Ele sentiu que Deus O tinha desamparado, que Ele tinha sido deixado sozinho. Ele cla­mou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mat. 27:46). Não era possível que Jesus Cristo pudesse fruir da presença de Deus quando Ele foi feito pecado por nós. Ele Se encontrava em profundas trevas quando a presença de Seu Pai foi afastada. Não podemos descrever a dimensão inco­mensurável do sofrimento de Cristo quando Deus fez cair sobre Ele "a iniquidade de nós todos". A morte é o castigo pelo pecado. Cristo morreu por nós. A Bíblia diz que Cristo, "inclinando a cabeça, rendeu o espírito" (João 19:30); e "... a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz" (Fil. 2:8).

(V). Reflitam agora sobre o que a morte de Cristo significou para nós, Seu povo eleito. Ele pagou nossa dívida. Todas as pessoas pelas quais Ele morreu estão livres. A justiça de Deus está satisfeita. Deus não nos pedirá mais pagamento pelos nossos pecados.

(VI). Vamos considerar agora a palavra "nós". "... o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos." Cremos que há um valor infinito na expiação de Cristo. Cremos que, por causa da morte de Cristo, há um convite genuíno a todos os homens: "Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa" (Atos 16:31). Contudo, devemos crer também que Cristo morreu apenas por aqueles que Deus escolheu, Seu povo eleito. Como seria possível que Cristo fizesse a expiação dos pecados daqueles que nunca creram nEle e que vão para o inferno? Não adianta dizer: "Mas eles não aceitariam a expi­ação." Pergunto: "A expiação foi satisfatoriamente feita para eles, ou não?" Certamente acontecerá que todos aqueles pelos quais Cristo fez a expiação de fato serão salvos. Ou então a obra de Cristo foi insatisfatória, até que um homem, crendo, lhe dê valor. Isso é inconcebível.

Todo homem que crê em Cristo será salvo. Cristo, pela Sua morte, fez a expiação total por aqueles que crêem. Deus seria injusto se castigasse os crentes quando Eleja castigou Seu próprio Filho pelos pecados de Seu povo. Esta segurança contra o castigo é como uma rocha sobre a qual os cristãos podem se sustentar. É um lugar de repouso seguro para todos aqueles que crêem em Cristo.
Se vocês não crêem em Cristo, devem suportar o castigo por seus próprios pecados. O sangue de Cristo não fez a expiação deles. Vocês rejeitaram o convite de Cristo e perecerão, porque transgre­diram a lei de Deus e recusaram-se a ser salvos pela cruz de Cristo.

Vamos agora aplicar aos nossos corações a verdade que estivemos expondo.

Quero fazer-lhes umas perguntas:

 O Senhor Jesus carregou seus pecados? Vocês podem verdadeiramente afirmar, usando estas palavras: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho..."? Vocês sentem em seus corações que pecaram e desviaram-se do caminho? Se vocês têm uma percepção pessoal do pecado dessa forma, então minha pergunta está respondida. O Senhor fez cair sua iniquidade sobre Cristo. Deus fez cair sobre Cristo o pecado de todos aqueles que confessam seu pecado e confiam apenas em Cristo para a salvação.

Mas se vocês não confiarem em Cristo, não posso dizer-lhes que o Senhor arrancou seu pecado e o fez cair sobre Cristo. Se vocês morrerem nessa atitude de incredulidade, serão condenados no dia do juízo. Deixem-me perguntar: vocês pretendem carregar sozi­nhos o seu pecado? Jesus sofreu muito quando carregou os pecados de Seu povo. O que vocês terão que sofrer se sozinhos suportarem a ira de Deus contra seu pecado? Vocês saberão então que "Horren­da coisa é cair nas mãos do Deus vivo" (Heb. 10:31). Os homens se enraivecem quando lhes falamos sobre este ensinamento do castigo eterno. Devemos dizer-lhes que esse é o ensinamento da Palavra de Deus. Sua pergunta deveria ser: "Como posso evitar o castigo?" Pensem em como Cristo era perfeito. Como podem achar que algo de bom em vocês é capaz de fazer a expiação do pecado?

Pensem no que Cristo teve que suportar a fim de fazer a expiação do pecado. Como vocês podem achar que algo que venham a fazer é capaz de efetuar a expiação de seu pecado? Se vocês não escolherem ser salvos pelo modo de Deus, não poderão absoluta­mente ser salvos. Não há nenhum outro caminho de salvação. Deixem-me recomendar este caminho a vocês. Confiar em Cristo, sabendo que Ele tomou meus pecados e suportou a punição por eles em meu lugar, faz com que eu me sinta muito exultante. Estou lhes falando a partir de minha própria experiência. Sei que estou salvo porque Cristo derramou Seu sangue por mim. Estou pronto para morrer e me erguer corajosamente no dia da ressurreição, porque Cristo é minha justiça e Deus não me condenará. Rogo-lhes que venham a Cristo a fim de que possam sentir a mesma confiança.

Sairemos agora refletir sobre a verdade que estivemos conside­rando.

Vou propor quatro coisas para vocês pensarem a respeito:


(I). A enorme montanha de pecado que caiu sobre Cristo. Vocês já sentiram o peso de seu próprio pecado? Cristo carregou todos os pecados de todo Seu povo ao longo de todas as épocas. O peso de nosso próprio pecado ter-nos-ia atirado ao inferno para sempre. O Filho de Deus suportou todo o peso do pecado de Seu povo. Reflitam sobre esta idéia. Deixem-na entrar em seus corações.

(II). Em seguida, vou pedir-lhes para pensar sobre o maravi­lhoso amor de Cristo que O levou a fazer tudojisso. "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rom. 5:8). Não tínhamos nenhuma bondade ou graça própria que faria com que Cristo quisesse nos amar. A natureza santa de Cristo tenderia a se afastar de pecadores tão perversos como nós. Seu amor é quase maravil hoso demais para que se possa falar dele.

Peço-lhes que pensem a respeito da profundidade do amor que Cristo tem pelo Seu povo. Acaso não está além de nossa compre­ensão o fato de que Deus fizesse cair sobre Cristo a iniquidade de todos nós, e Cristo nos tivesse amado tanto que desejou vir à terra para carregar nosso pecado?

(III). Pensem a respeito da segurança estabelecida pelo plano de salvação. Sei que Deus é justo e que Ele deve castigar o pecado. Jesus morreu por mim e, desde que Deus é justo, agora Ele não pode castigar-me também. Misericórdia, amor, verdade, justiça; agora estes são todos meus amigos! Visto que Jesus morreu por mim, eu não posso morrer. Ouçam as palavras do apóstolo Paulo: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Rom. 8:33-34). Descanso minha alma sobre essa sólida rocha. Não preciso temer. Jesus morreu por mim! A última pergunta que quero fazer-lhes é: "Quais são as reivindicações de Jesus Cristo sobre vocês e sobre mim?" Porventura nosso Senhor Jesus tomou seus pecados e sofreu aquela morte por vocês? Se vocês sabem que isto é verdade, peço-lhes que O tratem como Ele deve ser tratado. Amem-nO como Ele deve ser amado. Sirvam-nO como Ele deve ser servido. Vocês realmente guardam Seus mandamentos? Mes­mo a obediência não é suficiente. Vocês realmente O amam? Vocês levam suas vidas como se O amassem ternamente? Ele merece tudo o que vocês podem dar. Cristo existe por nós. Devemos existir por Ele. Devemos amá-lO, sofrer por Ele e trabalhar por Ele, pedindo-Lhe que nos ajude a fazer isso. Antes de crermos em Jesus, nós, cada um de nós seguia seu próprio caminho. Vamos agora, cada um de nós, servi-lO. Devemos falar aos outros sobre Ele. Devemos pedir-Lhe que nos dê obras para fazer por Ele. Devemos dar-Lhe nosso dinheiro, tanto quanto pudermos, para a obra da igreja. Deve­mos a Ele tudo o que temos. Ninguém mais do que Ele merece nossa devoção.

Assim, todos dentre vocês que conhecem a graça de Deus devem se dispor a viver, morrer, consumir-se e ser consumidos pelo Senhor Jesus Cristo. Nada vale mais a pena do que viver e morrer por Cristo. Vocês Lhe devem sua libertação do inferno e sua esperança do céu. Sigam-nO, amem-nO até o fim de suas vidas. Assim, vocês estarão com Ele no céu e verão face a face este Senhor Jesus Cristo a quem têm amado e servido.

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