domingo, 22 de dezembro de 2024

Jesus, o Filho de Davi

 


Em 2020, uma notícia inusitada apareceu nas manchetes de todos os portais de notícia: o príncipe Harry, filho da rainha Elizabeth II, havia abdicado de suas funções ligadas à monarquia britânica. Como membro da família real, todos tinham a expectativa de que ele viveria toda a sua vida cumprindo a agenda típica de um príncipe. Porém, para a surpresa de muitos, que sequer sabiam que algo assim era possível, Harry abriu mão de suas prerrogativas reais.

De fato, como vimos no artigo anterior desta série, as nossas filiações, não raramente, geram expectativas quanto ao curso de nossas vidas. O fato de termos precisamente os pais que temos ajuda a compor a nossa identidade de maneira singular, como no caso do príncipe Harry. Mesmo tendo renunciado a certas prerrogativas e responsabilidades reais, ele continua sendo príncipe e ainda faz parte da linha de sucessão ao trono britânico. A sua filiação real ainda impacta a sua identidade e papel na sociedade.

No presente artigo, trataremos do mais distinto membro da mais distinta família real que já existiu: Jesus, o herdeiro do trono da família real de Davi. Porém, ao contrário do príncipe Harry, ele não abdicou de nenhuma de suas responsabilidades e funções enquanto membro da realeza. Ele sempre fez jus às expectativas sobre-humanas que a sua filiação davídica lhe impunha.

Um descendente qualquer de Davi?

Mais uma vez, voltemo-nos para as palavras de abertura do Evangelho de Mateus, um versículo que, em poucas palavras, condensa uma mensagem teológica sublime:

Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. (Mt 1.1)

Ao assumir a natureza humana, Jesus, o Messias, o descendente prometido de Abraão que, quando se manifestasse, abençoaria todas as nações da terra (Gn 18.18; 22.18), também se fez filho de Davi.

Porém, o que há de especial nessa designação que Mateus atribui a Jesus? Já que, na cultura hebraica, o termo “filho” tem o sentido mais amplo de “descendente”, não seria correto dizer que todos os descendentes de Davi — como o sábio Salomão, o piedoso Josias e até o ímpio Manassés — são seus filhos? Sim, cada descendente de Davi é, conforme o modo hebraico de expressão, um filho seu. De fato, mesmo José, o pai adotivo de Jesus, é chamado de “filho de Davi” (Mt 1.20), uma vez que descendia do grande rei de Israel.

Por que, então, é significativo que Jesus receba esse título, já que, antes dele, existiram milhares de filhos de Davi e, depois dele, muitos outros? Assim como diversos homens na Bíblia são chamados de ungidos (p. ex., Saul, 1Sm 24.5-6; Davi, 2Sm 22.51; Ciro, Is 45.1), mas apenas um é o Ungido (em grego, o Cristo; em hebraico, o Messias) prometido, muitos, da mesma forma, são filhos de Davi, mas apenas um é o filho de Davi prometido. De maneira simples, o Messias prometido é o filho de Davi prometido.

Por isso, no pensamento judaico padrão da época de Jesus, o título “filho de Davi” era usado quase que como um sinônimo de “Messias”. Não à toa, depois que Jesus efetuou uma cura extraordinária, “a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?” (Mt 12.23; cf. 9.27; 15.22; 20.30-31; 21.9, 15). Com essa pergunta, o que o povo queria saber era se Jesus realmente era o Messias previsto no Antigo Testamento, aquele que reinaria sobre todas as nações.

De fato, o Antigo Testamento previa que, um dia, um descendente específico de Davi restauraria a sua dinastia e levaria o reino de Israel ao seu apogeu. Todas as nações do mundo seriam conquistadas por esse monarca davídico e o serviriam. Um reino de proporções universais seria estabelecido por esse filho da promessa (cf., p. ex., Is 9.3-7; Am 9.11-12).

Um filho de Davi opressor?

No entanto, embora Deus tivesse prometido a Davi que a sua dinastia e o seu trono seriam eternos (2Sm 7.16), quando Jesus nasceu, já fazia séculos que um monarca davídico não reinava sobre Israel. Os judeus, desde a queda de Jerusalém em 586 a.C., foram sucessivamente dominados pelos babilônios, persas, gregos e romanos. Entre a dominação grega e a dominação romana, em uma breve experiência de independência, houve até uma dinastia judaica não davídica (a dinastia macabéia) que, por mais de 100 anos, dominou a pequena nação judaica (164–137 a.C.). Desde Zedequias (2Rs 24.17; r. 597–586 a.C.), um filho de Davi não se assentava sobre o trono de Israel.

Havia, portanto, uma grande expectativa por parte dos judeus do primeiro século de que o filho de Davi da promessa se manifestaria e estabeleceria um reino universal e eterno. Contudo, uma noção messiânica importante e popular entre os contemporâneos de Jesus era que o filho prometido de Davi, quando viesse ao mundo, humilharia as demais nações e as reduziria a uma condição meramente servil. Israel, que, por séculos a fio, vinha sendo severamente dominado e explorado pelos gentios, passaria a dominá-los e explorá-los com o mesmo rigor. Só era preciso esperar a manifestação do filho de Davi para as coisas se inverterem.

Mas era realmente isso que as profecias previam? No artigo anterior desta série, vimos que a promessa quanto à vinda do filho de Abraão resultaria em bênção para todas as nações. Por consequência, não seria possível que a promessa relativa à vinda do filho de Davi culminasse em maldição para os povos, pois o filho de Abraão e o filho de Davi são a mesma pessoa: Jesus. O filho de Abraão que viria para abençoar as nações é o filho de Davi, que viria ao mundo não para exercer um domínio opressivo sobre as nações, mas para abençoá-las por meio de sua liderança unificadora.

A concepção messiânica equivocada de muitos contemporâneos de Jesus vinha mais de uma antipatia com relação às nações dominantes do que de uma leitura embasada do texto bíblico. A profecia de Isaías quanto ao filho de Davi, por exemplo, diz: Do tronco de Jessé [o pai de Davi] sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar. Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos povos; a glória lhe será a morada. (Is 11.1, 9-10)

A promessa de Deus era que o rebento que proviria do tronco de Jessé, ao se manifestar, em vez de espalhar o terror pelo mundo, seria tão admirado que as nações o buscariam e afluiriam à sua cidade. A atratividade desse monarca seria sentida e provada em todos os lugares. O filho de Davi, sendo também o filho de Abraão, viria para espalhar a sua bênção pelo mundo e implementar um reino de paz para todos os povos que o aceitassem como rei.

A primeira vinda do filho de Davi

Já temos condições de retornar à questão inicial: o que há de significativo na designação “filho de Davi”, que Mateus atribui a Jesus? Mais uma vez, a intenção do escritor inspirado é se contrapor a uma noção messiânica tão equivocada quanto comum em seus dias. Mateus quer destacar que Jesus, quando assumiu a filiação davídica e veio pela primeira vez, realmente se manifestou para reinar sobre todo o mundo. Contudo, o seu domínio não consiste no rebaixamento e humilhação das nações gentílicas, mas em sua glória e felicidade supremas. A primeira manifestação do filho de Davi não leva trevas para as nações, mas a potente luz do Evangelho.

Como um rei pacificador, Jesus, o filho de Davi, tem oferecido a indivíduos de todos os povos a cidadania plena. Ele está sinceramente disposto a receber como cidadãos de seu reino todos os que, a despeito de sua nacionalidade ou etnia, o aceitem como o Rei dos reis e Senhor dos senhores. À medida que os seus emissários saem por entre os povos e anunciam o seu tratado de paz, todos os que o aceitam são admitidos em Israel, a nação da qual Jesus, na qualidade de filho de Davi, é rei (cf. Mt 22.1-14).

Entretanto, de maneira inversa, os que não o aceitam como o rei messiânico de Israel e, por consequência, de todos os povos, independentemente de sua nacionalidade ou etnia, não podem fazer parte do Israel de Deus. Até mesmo os judeus, os filhos naturais de Abraão e súditos originais de Davi, caso não aceitem a realeza do filho de Davi que é maior do que seu pai (Mt 22.41-46), perderão a sua cidadania e não terão lugar no banquete escatológico no Reino de Deus, junto com os patriarcas de Israel:

Muitos virão do Oriente e do Ocidente [os gentios] e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. Ao passo que os filhos do reino [os judeus] serão lançados para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mt 8.11-12)

O critério mais fundamental para que façamos parte do reino universal de Jesus, que está em processo de implementação, é que o reconheçamos como o rei do mundo por direito. Se, então, você alegremente confessa que o filho de Davi é o seu rei, você foi aceito como cidadão de seu reino com direitos plenos, de maneira que desfrutará, por toda a eternidade, de todos os inumeráveis e gloriosos benefícios que os seus súditos têm e ainda terão.

A segunda vinda do filho de Davi

Porém, o filho de Davi ainda se manifestará mais uma vez. Caso você o tenha rechaçado, em vez de desfrutar das bênçãos de seu reino eterno, provará, infelizmente, do rigor de sua justiça. No momento, temos de dar ouvidos aos emissários do filho de Davi, pois o seu regresso se aproxima cada vez mais. Por ora, os termos que ele nos oferece são de paz, mas chegará o dia em que esses termos serão suspensos. Quando Jesus retornar ao mundo, levará os seus súditos de todas as nações ao seu reino eterno, mas condenará todos os que preferiram reinar sobre as suas próprias vidas. O alerta do salmista deve ressoar em nossos ouvidos:

Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se refugiam. (Sl 2.12)

Quando Jesus, o filho de Davi, retornar, não mais chegará como um bebê indefeso, mas como um rei acompanhado por hostes celestiais. Aproveite a época do Natal para se lembrar de que Jesus veio como um bebê, mas não permaneceu um bebê para sempre. Ele cresceu e se tornou o rei de Israel e de todas as nações. E é na qualidade de rei que ele se manifestará pela segunda vez. Ele chegou como um cordeiro, mas voltará como um leão. Aceite hoje a sua paz para que, um dia, não tenha de provar a sua ira.

 

Fonte: https://voltemosaoevangelho.com/blog/2024/12/jesus-o-filho-de-davi/


sábado, 14 de dezembro de 2024

A ATRAÇÃO SEXUAL ENTRE CONSELHEIRO E ACONSELHADO





Sempre que duas pessoas trabalham juntas em direção a um alvo comum, surgem sentimentos de camaradagem e cordialidade entre elas. Quando esses indivíduos possuem um estilo de vida similar (ambiente semelhante), e especialmente quando são do sexo oposto, os sentimentos calorosos quase sempre incluem um componente sexual. Esta atração sexual entre conselheiro e aconselhado foi chamada de "problema ignorado pelos clérigos". Trata-se, porém de um problema que quase todos os conselheiros enfrentam, quer falem ou não sobre ele com outros.

O  aconselhamento frequentemente envolve a discussão de detalhes íntimos que jamais seriam tratados em outro lugar — especialmente entre um homem e uma mulher que não são casados um com o outro. Isto pode despertar sexualmente tanto o conselheiro como o aconselhado. O potencial para a imoralidade pode ser ainda maior se o aconselhado é atraente e/ou tende a mostrar-se sedutor, se o aconselhado indicar que ele ou ela necessita realmente do conselheiro, e/ou se o aconselhamento envolver discussões detalhadas de informações sobre o despertamento sexual.

Tais influências sutis escreveu Freud há muitos anos atrás, "acarretam o perigo de fazer o homem esquecer-se de sua técnica e tarefa médica a favor de uma experiência agradável". É provável que todo leitor deste livro conheça conselheiros, inclusive pastores-conselheiros, que transigiram com seus padrões "a favor de uma experiência agradável" e descobriram que seus ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento e talvez seu casamento acabaram sendo destruídos como um resultado disso — sem falar sobre os efeitos negativos que isto pode ter no aconselhado.

O AUTOCONTROLE DO CONSELHEIRO

A atração sexual por um aconselhado pode se tornar comum se o conselheiro prudente não se esforçar ao máximo para exercer autocontrole.

PROTEÇÃO ESPIRITUAL

A meditação sobre a Palavra de Deus, a oração (incluindo a intercessão de outros) e a confiança na proteção do Espírito Santo, são elementos importantíssimos. Além disso, os conselheiros devem vigiar sua mente. A fantasia muitas vezes precede a ação e o conselheiro sábio cultiva o hábito de não demorar-se em pensamentos luxuriosos, mas focalizá-los naquilo que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e bom.

Encontrar outro crente a quem você possa prestar contas regularmente de seus atos também é de muito valor. Isto pode ter um impacto poderoso em seu comportamento. Finalmente, tenha cuidado em não cair na perigosa armadilha de pensar: "Isso acontece com outros, mas jamais aconteceria comigo". Esta é a espécie de orgulho que no geral precede a queda na tentação. Ele ignora o mandamento bíblico de que ele (ou ela) que pensa estar de pé deve cuidar para não cair.

E, se você cair? Servimos a um Deus que perdoa, embora as cicatrizes — na forma de uma reputação arruinada ou um insucesso no casamento, por exemplo — possa durar a vida inteira. Se confessarmos qualquer pecado recebemos perdão, mas temos depois a obrigação de modificar daí por diante nosso comportamento a fim de fazê-lo mais coerente com as Escrituras.

PERCEPÇÃO DOS SINAIS DE PERIGO

Num livro inteiro dedicado aos sentimentos sexuais do conselheiro e aconselhado, Rassieur indicou várias pistas que podem apontar para uma mudança potencial do profissionalismo do aconselhamento para uma intimidade perigosa. Isto inclui:

• A comunicação de mensagens sutis de qualidade mais íntima (sorrisos, levantar as sobrancelhas, contatos físicos, etc);

• O desejo do conselheiro e aconselhado de manterem o relacionamento;

• Ansiedade, especialmente por parte do aconselhado, de divulgar detalhes de experiências ou fantasias sexuais;

• Permissão do conselheiro para que o aconselhado o manipule;

• Reconhecimento por parte do conselheiro de que ele ou ela precisa ver o aconselhado (este é um sinal de fracasso);

• Frustrações crescentes na vida conjugal do conselheiro; e

• O prolongamento do tempo e frequência das entrevistas, algumas vezes suplementadas por chamadas telefônicas.

Quando a atração sexual se faz presente e é reconhecida, o conselheiro pode interromper o aconselhamento, transferir o trabalho para outra pessoa, ou até mesmo discutir esses sentimentos com o aconselhado. Antes de qualquer coisa, porém, é melhor estabelecer certos limites definidos, prescrevendo claramente a frequência e duração das sessões de aconselhamento e apegar-se a esses limites;

• Recusar conversas telefônicas prolongadas;

• Desencorajar discussões detalhadas de tópicos sexuais;

• Evitar (atenção!) o contato físico; e

• Encontrar-se num lugar que desestimule olhares eloquentes ou intimidades pessoais. A maneira de sentar-se, sem aproximar-se demasiado do paciente também é importante.

ANÁLISE DE ATITUDES

Não existe proveito algum em negar os seus instintos sexuais. Eles são comuns, com frequência embaraçosos e bastante estimulantes, mas controláveis. Lembre-se do seguinte:

• As Consequências Sociais: Ceder à tentação sexual pode arruinar a reputação da pessoa, seu casamento e eficácia como conselheiro. Esta compreensão pode agir como um importante impedimento.

• Imagem Profissional: Lembre-se de que você é um conselheiro profissional e, pelo menos se espera, um homem ou mulher de Deus em direção ao amadurecimento. As intimidades sexuais com os aconselhados jamais ajudam as pessoas com problemas nem beneficiam o trabalho profissional do conselheiro.

• Verdade Teológica: O envolvimento sexual fora do casamento é pecaminoso e deve ser evitado. É verdade que as circunstâncias influenciam nosso comportamento presente e as experiências passadas podem limitar nossas opções correntes, mas isso não nos absolve da responsabilidade. Cada conselheiro e aconselhado é responsável pelo seu próprio comportamento.

• Escreve o psiquiatra Vicktor Frankl, "não é complementarmente condicionado e determinado; ele decide por si mesmo se vai ceder ou opor-se às condições... Todo ser humano tem liberdade para modificar-se a qualquer momento." Podemos alegar que "o diabo me obrigou a isso", mas o diabo só tenta. Ele nunca nos obriga a fazer nada. Nós decidimos pecar, deliberando e agindo contrariamente à orientação do Espírito Santo, que reside no interior do crente e é maior que Satanás. É importante que tanto conselheiros como aconselhados compreendam isto.

 

Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

(Parte 7) Acompanhe as demais postagens.

 

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

RAZÕES PARA A FRUSTRAÇÃO DE UM CONSELHEIRO

O aconselhamento seria mais fácil se pudesse supor que todo aconselhado quer ajuda, e irá cooperar plenamente no aconselhamento. Mas, infelizmente, isto nem sempre acontece. Alguns aconselhados têm o desejo consciente ou inconsciente de manipular, frustrar, ou não colaborar. Esta é uma descoberta difícil para o conselheiro que deseja ser bem sucedido e cujo sucesso depende principalmente da mudança operada no paciente. É sempre difícil trabalhar com pessoas assim, principalmente quando não têm espírito de cooperação. Ao decidirmos ajudar, estamos necessariamente aceitando a possibilidade de luta pelo poder, exploração e fracasso. São pelo menos duas as principais maneiras em que as pessoas frustram o conselheiro e aumentam a sua vulnerabilidade.

MANIPULAÇÃO 

Algumas pessoas são mestras em impor a sua vontade controlando outros. Conta-se a história de um jovem conselheiro que se sentia inseguro e queria agradar. Não desejando ser rotulado como o "conselheiro anterior que não se importava", o jovem conselheiro achava-se decidido a ser útil. As sessões de aconselhamento encompridaram e tornaram-se mais frequentes. Antes de pouco tempo o conselheiro estava dando telefonemas, fazendo pequenos serviços e empréstimos e até compras para o aconselhado, que constantemente expressava sua gratidão e chorosamente pedia mais.

Os conselheiros manipulados geralmente têm pouca utilidade. Os indivíduos que tentam manipular seu conselheiro quase sempre fizeram da manipulação um modo de vida. Eles agem bem e com sutileza, mas não conseguem viver sem praticar o embuste e a arte de dominar. O conselheiro precisa opor-se a essas táticas, recusar-se a ser movido por elas e ensinar meios mais satisfatórios de relacionar-se com outros.

É sábio perguntar-se continuamente:

• "Estou sendo manipulado?"

• "Será que tenho ultrapassado minhas responsabilidades como conselheiro?"

• "O que este aconselhado deseja realmente?"

Algumas vezes as pessoas alegam desejar ajuda com um problema, mas na verdade querem seu tempo e atenção, sua aprovação de um comportamento pecaminoso ou prejudicial, ou seu apoio como aliado num conflito familiar. Outras vezes elas o procuram por acreditarem que cônjuges preocupados, outros membros da família ou empregadores deixarão de queixar-se de seu comportamento uma vez que iniciem o processo de aconselhamento. Quando você suspeitar desse tipo de desonestidade e manipulação, é prudente conversar a respeito com o aconselhado, esperar uma negativa da parte dele, e depois estruturar o aconselhamento de modo a impedir manipulação e exploração do conselheiro no futuro. Lembre-se de que o aconselhamento verdadeiramente útil nem sempre agrada ao aconselhado ou é conveniente para o conselheiro, mas contribui para o amadurecimento do indivíduo que solicitou ajuda. A idéia de que "as pessoas sinceras em seu desejo de aceitar ajuda raramente mostram-se exigentes", desonestas ou manipuladores, é, sem dúvida, verdadeira.

RESISTÊNCIA

As pessoas algumas vezes buscam ajuda por desejarem alívio imediato da dor, mas quando descobrem que o alívio permanente pode exigir tempo, esforço e maior sofrimento ainda, elas resistem ao aconselhamento. Noutras ocasiões os problemas fornecem benefícios que o paciente não quer perder (atenção pessoal de outros, por exemplo, ou compensações pela sua invalidez, menor responsabilidade, ou gratificações mais sutis, tais como castigo ou a oportunidade de tornar a vida difícil para os demais).

Desde que o aconselhamento bem sucedido iria interromper esses benefícios, o aconselhado não coopera. A seguir estão aqueles que adquirem um senso de poder e realização quando conseguem frustrar os esforços de outros - por exemplo, dos conselheiros profissionais. Essas pessoas com frequência convencem a si mesmas: "Ninguém pode me ajudar — mas também o conselheiro que não for bem sucedido comigo não vale nada". O conselheiro continua aconselhando, o aconselhado finge colaborar, mas ninguém melhora.

A resistência é uma força poderosa que quase sempre exige aconselhamento profissional em profundidade. Quando os conselheiros começam a trabalhar, as defesas psicológicas do aconselhado são ameaçadas e isto leva à ansiedade, à ira e a uma atitude de não colaboração por vezes inconsciente. Quando o paciente é relativamente bem-ajustado esta resistência pode ser discutida com brandura e franqueza. Permita que ele ou ela saiba que é responsável (e não o conselheiro) pelo resultado final do processo, obtendo ou não melhora. O conselheiro fornece uma relação estruturada, evita ficar na defensiva, e deve reconhecer que a sua eficácia como conselheiro (e certamente como uma pessoa) nem sempre é proporcional à melhora dos aconselhados.

Foi sugerido que os conselheiros se perdem não apenas quando ignoram a direção que estão tomando, mas também quando não conhecem a si mesmos. Podemos permanecer vigilantes quanto a problemas em potencial quando frequentemente fazemos a nós mesmos (e um ao outro) perguntas tais como:

• Por que acho ser esta a pior (ou melhor) pessoa que já aconselhei?

• Existe uma razão para o meu constante atraso, ou o do aconselhado?

• Existe uma razão para que o aconselhado ou eu deseje mais (ou menos) tempo do que havíamos combinado no início?

• Minhas reações às palavras deste aconselhado são excessivas?

• Sinto-me aborrecido quando estou com esta pessoa? O problema sou eu, o aconselhado, ou nós dois?

• Por que eu sempre concordo (ou discordo) com o aconselhado?

 • Sinto vontade de terminar esta relação ou de apegar-me a ela embora devesse terminar?

• Estou começando a sentir demasiada simpatia pelo aconselhado?

• Penso constantemente no aconselhado entre as entrevistas, sonho acordado com ele ou ela, ou mostro mais do que o interesse comum no seu problema? Por quê?

 

Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

(Parte 6) Acompanhe as demais postagens.


domingo, 24 de novembro de 2024

O ACONSELHAMENTO É GRATIFICANTE, PORÉM ARRISCADO.

 



Há muitas pessoas que gostariam de desempenhar o papel de conselheiros, muitas vezes por se tratar de uma atividade considerada fascinante — dar conselhos e ajudar as pessoas a resolverem os seus problemas.

O aconselhamento, como é natural, pode ser um trabalho muito gratificante, mas não leva tempo para descobrirmos que se trata de uma tarefa árdua, emocionalmente exaustiva. Ele envolve concentração intensa e algumas vezes nos faz sofrer, ao vermos tantas pessoas infelizes. Quando esses indivíduos não conseguem melhoras, como acontece com frequência, é fácil culpar-nos, tentar dar mais ainda de nós mesmos e ficar imaginando o que aconteceu de errado.

Enquanto mais e mais pessoas procuram aconselhamento, surge a tendência de aumentar nosso período de trabalho, esforçando-nos até o limite máximo de nossas forças. Alguns dos problemas dos aconselhados nos fazem lembrar-se de nossas próprias inseguranças e conflitos e isto pode ameaçar nossa estabilidade ou sentimentos de auto-estima.

Não é de admirar que o aconselhamento tenha sido considerado uma ocupação tanto gratificante como arriscada. Discutiremos neste capítulo alguns dos riscos, e consideraremos alguns dos meios que podem tomar a tarefa do conselheiro mais satisfatória e bem sucedida.

A MOTIVAÇÃO E O CONSELHEIRO

Por que você quer aconselhar? Alguns conselheiros cristãos, especialmente pastores, foram praticamente obrigados a exercer essa ocupação devido às pessoas que os procuraram espontaneamente para pedir ajuda com seus problemas. Outros conselheiros encorajaram as pessoas a procurá-los e talvez tenham feito um treinamento especial, baseados na suposição válida de que o aconselhamento é uma das maneiras mais eficazes de servir aos outros. Como vimos, a Bíblia ordena o cuidado mútuo e isto com certeza envolvem o aconselhamento.

Quase nunca é fácil analisar e avaliar nossos motivos. Isto talvez se aplique especialmente quando examinamos nossas razões para praticar o aconselhamento. Um desejo sincero de auxiliar as pessoas a se desenvolverem é uma razão válida para tomar-se um conselhei-ro, mas existem outras que motivam os conselheiros e que interferem com a eficácia de seu aconselhamento.

CURIOSIDADE – NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO

Ao descrever seus problemas, os aconselhados, no geral, oferecem certas informações que não contariam a mais ninguém de outra forma. Quando o conselheiro é curioso, ele ou ela algumas vezes esquece o aconselhado, pressiona para obter mais detalhes e com frequência não consegue manter segredo. Por essa razão, as pessoas preferem evitar os ajudadores curiosos.

A NECESSIDADE DE MANTER RELAÇÕES

Todos precisam de aproximação e contatos íntimos com pelo menos duas ou três pessoas. Para alguns aconselhados, o conselheiro será seu melhor amigo, pelo menos temporariamente. Mas, e se os conselheiros não tiverem outros amigos além dos aconselhados? Em tais casos a necessidade que o conselheiro tem de um relacionamento pode prejudicar sua ajuda. Ele na verdade não quer que os aconselhados melhorem e terminem o aconselhamento, visto que isto interromperia a relação. Se você procura oportunidades para prolongar o período de aconselhamento, para chamar o aconselhado, ou reunir-se com ele socialmente, a relação pode estar satisfazendo suas necessidades de companhia tanto quanto (ou mais do que) proporciona ajuda ao aconselhado. Neste ponto o envolvimento conselheiro-aconselhado deixa de ser uma relação de ajuda profissional. Isto nem sempre é negativo, mas os amigos também nem sempre são os melhores conselheiros.

A NECESSIDADE DE PODER

O conselheiro autoritário gosta de "endireitar" os outros, dar conselhos (mesmo quando não solicitado), e desempenhar o papel de "solucionador de problemas". Alguns aconselhados do tipo dependente podem desejar isto, mas não serão ajudados se suas vidas forem controladas por outra pessoa. A maioria das pessoas, no entanto, irá eventualmente opor resistência a um conselheiro autoritário. Ele ou ela não será verdadeiro ajudador.

A NECESSIDADE DE SOCORRER

O conselheiro deste tipo tira a responsabilidade do aconselhado ao demonstrar uma atitude que diz claramente: "você não é capaz de resolver isso, deixe tudo comigo". Esta foi chamada de abordagem do messias benfeitor. Ela pode satisfazer o aconselhado por algum tempo, mas raramente fornece ajuda duradoura. Quando a técnica de socorro falha (como acontece muitas vezes), o conselheiro sente-se culpado e inadequado — como um messias incapaz de salvar os perdidos.

É provável que todo conselheiro perspicaz experimente por vezes tais tendências, mas não deve ceder às mesmas. Quando a pessoa procura aconselhamento, está aceitando o risco de compartilhar informação pessoal e entregar-se aos cuidados do conselheiro. Este irá violar esta confiança e portanto diminuir a eficácia do aconselhamento se a relação de ajuda for usada primariamente para satisfazer as necessidades do próprio ajudador.

 

Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

 (Parte 5) Acompanhe as demais postagens.


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

TRÊS QUALIFICAÇÕES DO CONSELHEIRO EFICAZ

 


O que faz de alguém um bom conselheiro? Num estudo de quatro anos conduzido com pacientes hospitalizados e vários conselheiros, foi descoberto que os pacientes melhoravam quando seus terapeutas mostravam um nível elevado de cordialidade, sinceridade e compreensão empática correta. Quando faltavam essas qualidades ao conselheiro, os pacientes pioravam. Essas primeiras descobertas foram apoiadas por pesquisas subsequentes tanto com pacientes como com aconselhados não hospitalizados. As qualificações do conselheiro são de tal importância que vale a pena considerá-las em mais detalhe:

1. CORDIALIDADE

Este termo implica em cuidado, respeito ou preocupação sincera, sem excessos, pelo aconselhado — sem levar em conta seus atos ou atitudes. Jesus mostrou isto quando se encontrou com a mulher junto ao poço. As qualidades morais dela talvez deixassem a desejar, e ele certamente jamais aprovou o comportamento pecaminoso; mas, mesmo assim, Jesus respeitou a mulher e a tratou como pessoa de valor.  

2. SINCERIDADE

O conselheiro sincero é "real" — uma pessoa aberta, franca, que evita o fingimento ou uma atitude de superioridade. A sinceridade implica em espontaneidade sem irreflexão e honestidade sem confrontação impiedosa. Isto significa que o ajudador é profundamente ele ou ela mesmo — não sendo do tipo que pensa ou sente uma coisa e diz algo diferente.

3. EMPATIA

Como o aconselhado pensa? Como ele se sente na verdade por dentro? Quais os valores, crenças, conflitos íntimos e mágoas do aconselhado? O bom conselheiro mostra-se sempre sensível a essas questões, capaz de entendê-las e comunicar eficazmente essa compreensão (por palavras ou gestos) ao aconselhado. Esta capacidade de "sentir com" o aconselhado é o que queremos dizer com compreensão empática correta. É possível ajudar as pessoas, mesmo quando não entendemos completamente, mas o conselheiro que consegue enfatizar (especialmente no início do aconselhamento) tem mais probabilidade de tomar-se um ajudador eficaz de pessoas.

 

 Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

 (Parte 4) Acompanhe as demais postagens.

 


domingo, 10 de novembro de 2024

A Declaração de Cambridge

 


As igrejas evangélicas de hoje estão cada vez mais dominadas pelo espírito deste século em vez de pelo Espírito de Cristo. Como evangélicos, nós nos convocamos a nos arrepender desse pecado e a recuperar a fé cristã histórica.

No decurso da História, as palavras mudam. Na época atual isso aconteceu com a palavra evangélico. No passado, ela serviu como elo de união entre cristãos de uma diversidade ampla de tradições eclesiásticas. O evangelicalismo histórico era confessional. Acolhia as verdades essenciais do Cristianismo conforme definidas pelos grandes concílios ecumênicos da Igreja. Além disso, os evangélicos também compartilhavam uma herança comum nos "solas" da Reforma Protestante do século 16.

Hoje, a luz da Reforma já foi sensivelmente obscurecida. A conseqüência foi a palavra evangélico se tornar tão abrangente a ponto de perder o sentido. Enfrentamos o perigo de perder a unidade que levou séculos para ser alcançada. Por causa dessa crise e por causa do nosso amor a Cristo, seu evangelho e sua igreja, nós procuramos afirmar novamente nosso compromisso com as verdades centrais da reforma e do evangelicalismo histórico. Nós afirmamos essas verdades e não pelo seu papel em nossas tradições, mas porque cremos que são centrais para a Bíblia.

SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade

Só a Escritura é a regra inerrante da vida da igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade, autoridade moral e discernimento.

Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a disciplina da igreja.

A Escritura deve nos levar além de nossas necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus nos tem dado.

A obra do Espírito Santo na experiência pessoal não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste da verdade.

Tese 1: Sola Scriptura

Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.

Negamos que qualquer credo, concílio ou indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.

SOLO CHRISTUS: A Erosão da Fé Centrada em Cristo

À medida que a fé evangélica se secularizou, seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição, da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa visão.

Tese 2: Solo Christus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e sua obra não estiver sendo invocada.

SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho


A Confiança desmerecida na capacidade humana é um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.

A graça de Deus em Cristo não só é necessária como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

Tese 3: Sola Gratia

Reafirmamos que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos da morte espiritual à vida espiritual.

Negamos que a salvação seja em qualquer sentido obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza não-regenerada.

SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial

A justificação é somente pela graça, somente por intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa pregação.

Muitas pessoas ligadas ao movimento do crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às empresas seculares.

Embora possam crer na teologia da cruz, esses movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer para alcançar Deus.


Tese 4: Sola Fide

Reafirmamos que a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a perfeita justiça de Deus.

Negamos que a justificação se baseie em qualquer mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.

SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus


Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a autoridade da Bíblia, o­nde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão. Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus, Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso irrelevante sobre nós.

Deus não existe para satisfazer as ambições humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós. Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios, popularidade ou êxito.


Tese 5: Soli Deo Gloria


Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre. Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de Deus, e para sua glória somente.

Negamos que possamos apropriadamente glorificar a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao evangelho.


Um Chamado ao Arrependimento e à Reforma

A fidelidade da igreja evangélica no passado contrasta fortemente com sua infidelidade no presente. No princípio deste mesmo século, as igrejas evangélicas sustentavam um empreendimento missionário admirável e edificaram muitas instituições religiosas para servir a causa da verdade bíblica e do reino de Cristo. Foi uma época em que o comportamento e as expectativas cristãs diferiam sensivelmente daquelas encontradas na cultura. Hoje raramente diferem. O mundo evangélico de hoje está perdendo sua fidelidade bíblica, sua bússola moral e seu zelo missionário.

Arrependamo-nos de nosso mundanismo. Fomos influenciados pelos "evangelhos" de nossa cultura secular, que não são evangelhos. Enfraquecemos a igreja pela nossa própria falta de arrependimento sério, tornamo-nos cegos aos pecados em nós mesmo que vemos tão claramente em outras pessoas, e é indesculpável nosso erro de não falar às pessoas adequadamente sobre a obra salvadora de Deus em Jesus Cristo.

Também apelamos sinceramente a outros evangélicos professos que se tenham desviado da Palavra de Deus nos assuntos discutidos nesta declaração. Incluímos aqueles que declaram haver esperança de vida eterna sem fé explícita em Jesus Cristo, os que asseveram que quem rejeita a Cristo nesta vida será aniquilado em lugar de suportar o juízo justo de Deus pelo sofrimento eterno e os que dizem que os evangélicos e os católicos romanos são um em Jesus Cristo, mesmo quando a doutrina bíblica da justificação não é crida.

A Aliança de Evangélicos Confessionais pede que todos os crentes deem consideração à implementação desta declaração no culto, ministério, política, vida e evangelismo da igreja.

Em nome de Cristo. Amém.


Aliança de Evangélicos Confessionais.
Cambridge, Massachusetts
20 de abril de 1996.

 Fonte: https://editorafiel.pt/pt/noticias/a-declaracao-de-cambridge1996


sábado, 9 de novembro de 2024

AS NECESSIDADES HUMANAS (ÁREA DE ACONSELHAMENTO)

 


A Bíblia é recheada de exemplos de necessidades humanas. Através de suas páginas lemos a respeito de: • Solidão • Desânimo • Dúvida • Tristeza • Inveja • Violência • Pobreza • Doença • Tensão interpessoal • Diversos outros problemas pessoais — algumas vezes manifestados na vida dos homens e mulheres mais consagrados.

EXEMPLO DE JÓ

Ele era um homem piedoso, conhecido, rico e grandemente respeitado por seus contemporâneos. De repente as coisas mudaram. Jó perdeu toda a sua riqueza. Sua família inteira morreu exceto sua mulher que, sob pressão, mostrou-se queixosa e implicante. Ele perdeu a saúde, os amigos pouco o ajudaram e Deus deve ter-lhe parecido muito remoto.

Veio então Eliú, um jovem que deu atenção às palavras de Jó e o ouviu falar de suas dificuldades. Eliú criticou os que haviam censurado e oferecido conselhos numa tentativa de ajuda. Ele mostrou aceitação e interesse, uma disposição humilde de nivelar-se a Jó (sem uma atitude negativa de parecer "mais santo do que tu"), coragem para confrontar, e o desejo firme de dirigir o aconselhado a Deus que é o único soberano no universo. Eliú foi o único conselheiro que prestou auxilio. Ele teve êxito onde os três outros haviam falhado.

CONSELHEIROS INEFICAZES

Há vários anos atrás, um ex-presidente da Associação Americana de Psicologia calculou que ainda hoje, três entre cada quatro conselheiros são ineficazes. A proporção cresceu levemente segundo as descobertas de escritores mais recentes que estudaram a eficácia do aconselhamento. De acordo com esta pesquisa, podemos estar "bem certos" de que dois dentre cada três praticantes são ineficientes e até prejudiciais; desperdiçando energia, dedicação e cuidado.

CONSELHEIROS EFICAZES

Existem, porém conselheiros bem sucedidos, cujo aconselhamento é grandemente eficaz. Essas pessoas são caracterizadas por uma personalidade que irradia compreensão, sinceridade e aptidão para confrontar de maneira construtiva. Esses conselheiros são também hábeis na aplicação de técnicas que estimulam os aconselhados a se dirigirem para alvos terapêuticos específicos. Iniciaremos este capítulo com uma consideração desses alvos de aconselhamento, discutindo as qualificações de um ajudador eficaz, resumindo algumas técnicas básicas de aconselhamento, dando uma breve visão geral do processo de aconselhamento e concluindo com um exame das tarefas para casa ligadas ao processo em questão.

 

 Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

 (Parte 3) Acompanhe as demais postagens.