quarta-feira, 24 de abril de 2024

Disciplina (não) é só para militares

 

 

 

 

Todo início de ano é a mesma coisa. Por alguma razão, passamos a esperar coisas novas e diferentes, ainda que não haja nenhum sinal direto de mudança. Reunimos essa energia, pensamos em alguns desejos e, na base do otimismo, acreditamos que tudo fluirá.

Para os cristãos, a resolução clássica é: “Este ano vou ler a Bíblia toda”. E é assim que Gênesis se torna o livro mais iniciado de todos os tempos e o menos concluído. Na primeira semana do ano, sentimo-nos empolgados e conseguimos caminhar na leitura. Na segunda semana, a vida começa a “voltar ao normal” e, assim, falhamos na leitura em alguns dias. Na terceira semana, já nos damos conta de que há um descompasso entre nossas expectativas e a realidade, e muitos de nós já desistem por ali mesmo.

“Eu não consigo ler a Bíblia e orar todos os dias”, já ouvi algumas vezes. “Eu sempre começo, mas não consigo manter a constância.”

Eu entendo. Disciplina não é exatamente nosso ponto forte.

Os militares e a disciplina

Talvez se fôssemos militares, a coisa seria diferente. Eles são disciplinados. Têm horários a cumprir, regras a obedecer, padrões a serem mantidos. Existe uma forma própria de arrumar a cama, alinhar o uniforme, cumprir as atividades demandadas. A fama é tão grande que colégios militares foram propostos como instrumentos para restaurar cenários de muita baderna, indisciplina e desordem. 

Se fôssemos militares, seria mais fácil — alguns podem pensar. Mas um militar não nasce assim. Ele é forjado.

Aqui, então, retomamos o debate sobre natureza e cultura. Assim como no tópico da procrastinação, na indisciplina também precisamos perceber que nosso problema é tanto cultural como natural. E trataremos primeiro da dimensão cultural, porque a natural nos levará a considerar o coração na sequência.

Uma cultura indisciplinada

Nem mesmo os militares ficam livres. Os mais antigos talvez se lembrem do personagem Recruta Zero — um militar preguiçoso e indisciplinado. Os quadrinhos do Recruta Zero foram criados no cenário norte-americano, mas caberiam bem em terras brasileiras.

Como já vimos, o Zé Carioca, a lei de Gérson e o jeitinho brasileiro dão o tom da cultura nacional. É claro que isso não representa a totalidade do Brasil — há muita gente trabalhadora e disciplinada em nosso país —, mas as caricaturas apenas exageram os traços reais.

Nesse contexto, preguiça e indisciplina andam juntas. Como privilegiamos o improviso no lugar do planejamento, e a inspiração no lugar da transpiração, somos mais propensos a depender do humor do momento e, assim, temos uma caminhada inconstante — em um dia, estamos no clima de ler um livro da Bíblia inteiro e, nas três semanas seguintes, estamos cansados e atarefados demais.

Sem perceber, passamos a ser escravos do humor do dia. Algumas vezes, justificamos a inércia com alguma aparência de piedade — “Eu não vou orar hoje porque não estou no clima; isso seria hipocrisia para com Deus” —, mas a realidade é que somos guiados por nossas emoções, permitindo que elas conduzam nossas vidas. Vivemos pelo “sentir”, e não pela fé.

A cultura global também nos encaminha nessa direção. Embora existam outros países cujo ethos é voltado para a vida organizada e disciplinada, o avanço da tecnologia nos estimula a abraçar a lei do menor esforço. 

Não me entenda mal; eu amo as facilidades tecnológicas e uso muitas delas — inclusive agora, ao escrever este capítulo. Mas, se é verdade que tempos difíceis criam homens fortes, enquanto tempos fáceis criam homens fracos, a comodidade da tecnologia contribuiu para nossa fraqueza em termos de disciplina. 

Pense no exemplo das compras. Embora comprar possa ter algo conectado ao prazer, a atividade de fazer compras no mercado, por exemplo, sempre esteve conectada a alguma dose de esforço e abnegação. Era necessário separar tempo, criar coragem, vencer o comodismo e seguir para essa tarefa entediante. Para muitos, ainda é assim que funciona. Mas, então, chegaram os canais digitais de compras — e tudo ficou rápido, fácil e indolor. Sites como a Amazon foram além e desenvolveram tecnologia para criar um botão chamado “comprar com um clique”, diminuindo até mesmo a “dificuldade” de clicar em mais de um botão para comprar. Por um lado, isso é maravilhoso. Em cinco minutos ou menos, você resolve o problema da falta de papel higiênico em casa sem precisar se vestir e encarar o trânsito e as filas. Por outro lado, o que isso fez conosco? Tornou-nos menos dispostos a suportar o desconforto e, no longo prazo, tem enfraquecido nossa vontade e sabotado a capacidade de esforço e disciplina para lidar com tarefas que pareçam entediantes ou difíceis.

Bem-vindo ao século 21, no qual toda a facilidade se transformou em armadilha. 

Um coração indisciplinado

Se a cultura nos estimula à indisciplina, nós só pegamos a isca porque há algo dentro de nós propenso a isso. Não precisamos exatamente das facilidades da tecnologia ou do jeitinho brasileiro para sermos convencidos de seguir o caminho do menor esforço. É possível que essas estruturas culturais existam porque primeiro, em nosso coração, a disposição para a indisciplina é a norma. Mas o que está envolvido nessa dinâmica?

Se você notou o padrão, perceberá que tudo começa com o orgulho. Nós buscamos ocupar o centro do mundo, de modo que tudo deve girar em torno de nós. Se estamos no centro, é nossa vontade, nosso conforto e bem-estar, nosso humor do momento e nossas expectativas que devem ser atendidos.

Não é possível, porém, ir muito longe com isso. Da raiz do orgulho, brota o apego aos apetites sensuais. A Escritura nos adverte, repetidas vezes, contra as “paixões” e, sob essa nomenclatura, encontram-se os vícios e apetites de uma alma faminta por prazeres fáceis.

A metáfora da comida é adequada. Eu amo o que é conhecido como fast-food. Gosto de pedir algo e receber rapidamente. Gosto dos condimentos, que realçam o sabor, dos molhos etc. É rápido, fácil e gostoso. Mas “fast-food”, em muitos contextos, é “junk-food”. Talvez na juventude os efeitos sejam pouco sentidos, mas, quando a idade vai chegando, comer aquele sanduíche depois das nove da noite pode significar uma noite maldormida. E, ainda que os efeitos não sejam bem percebidos, há impacto sobre o corpo: a inflamação pode ser sutil, mas é real.

O prazer rápido e fácil de um sanduíche ou de batatas chips traz consigo os efeitos nocivos para o corpo. De modo semelhante, os prazeres fáceis dos apetites sensuais trazem efeitos destrutivos para a alma.

A indisciplina está ligada à fraqueza de vontade e à busca por prazeres fáceis. De certa forma, é estranho pensar sobre isso. Acaso não estaríamos fazendo uma tempestade em copo d’água? Afinal de contas, trata-se apenas de eu não conseguir manter a disciplina para uma dieta, ou para tomar meus remédios, ou para fazer atividade física, ou ainda para fazer meu devocional. Não parece haver um grande significado por trás de um pequeno gesto de desleixo ou indisciplina. Mas é exatamente aí que mora o perigo.

Quando observamos as raízes da indisciplina no apego aos prazeres fáceis e aos apetites imediatos, percebemos que não apenas o significado do problema é maior do que imaginamos, mas também que começamos a notar que o mal não é estático, mas progressivo.

“Um abismo chama outro abismo”, diz a Escritura (Sl 42.7). E o que é apenas a descrição do sofrimento do salmista pode servir como uma máxima dos vícios em nosso coração. A indisciplina é o reflexo de um coração autocentrado e apegado aos prazeres fáceis, mas também é um caminho para afundarmos na autoindulgência e no descontrole em relação aos apetites sensuais.

É possível haver uma expressão localizada de indisciplina. Gustavo é um trabalhador dedicado, mas, fora do contexto de serviço, é um glutão descontrolado. Marília é muito controlada em sua alimentação, mas não consegue se controlar em seus impulsos consumistas.

A expressão localizada, no entanto, cederá com o tempo. A falta de domínio próprio em uma área tenderá a atingir outras áreas, porque o problema não é a área específica, mas o coração. É assim que os indisciplinados se tornam glutões, consumistas e praticantes descontrolados de atividade física, cedendo facilmente a outros apetites sensuais, como a pornografia e a promiscuidade sexual. Como nos diz John Henderson: “Se usarmos comida, bebida, mídia e outras coisas criadas como meios para servir a carne, então estabeleceremos condições sob as quais a pornografia prosperará”. (1)

Você consegue ver o tamanho do problema? Não se limita ao fato de você não conseguir manter a dieta. É que a indisciplina é um buraco negro que nos atrai para doses cada vez maiores de autoindulgência e descontrole, impelindo-nos a deixar de lado nossas responsabilidades e viver em função de nossos prazeres.

O artigo acima é um trecho adaptado com permissão do livro Produtividade redimida, de Allen Porto, Editora Fiel.

https://ministeriofiel.com.br/artigos/disciplina-nao-e-so-para-militares/

 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Para que tanta mentira?

 


Já tentou desenrolar alguma vez essa mola de relógio de corda? Com muita dificuldade você consegue esticar, mas basta soltar que volta a se enrolar de novo... parece que não tem jeito. Tem pessoas que gostam de viver assim! Quanto mais vive mais se enrola. Uma das coisas que contribuem em muito é o fato de gostar de falar mentiras... eh! eh! eh! Para que tanta mentira?

Costumo dizer que a mentira coloca uma “vírgula”, porém a verdade coloca um “ponto final” na estória. Você consegue falar com pedras na boca? – Eu também não! Segundo a Bíblia Sagrada quem mente está com a boca desse jeito.

(Provérbios 20:17) “Suave é ao homem o pão da mentira, mas depois a sua boca se encherá de cascalho”.

Que tal desenrolar essa mola? Ajude essa pessoa e diga que: com Jesus tem jeito!


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Inveja

 

(Tiago 3:16)

"Porque, onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa."

Você talvez conheça alguém que se compara com outras pessoas, e nunca está contente com o que tem. Essa pessoa está alimentando a inveja em seu coração. Quem tem inveja, tem dificuldade para falar bem de outras pessoas, pois vive em trevas. Até consegue 'chorar com os que choram', mas não consegue 'se alegrar com os que se alegram'. Se você tem se sentido assim, peça a Deus que limpe seu coração para que você não seja o causador de confusão na vida de alguém.


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

506 anos da Reforma Protestante

 


Amanhã, 31 de outubro de 2023, comemora-se os 506 anos da Reforma Protestante. Foi um movimento religioso ocorrido na Europa, no século XVI. Iniciado por Martinho Lutero, um monge alemão insatisfeito com a cobrança de indulgências pela Igreja Católica. Lutero elaborou as 95 teses e fundamentou uma teologia que deu origem a novas denominações dentro do cristianismo.

 A Europa do século XVI passava por profundas transformações. As estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais que marcaram o continente durante a Idade Média estavam sendo substituídas. A religião perdia a sua força, pois, a partir do Renascentismo, começou a se consolidar a ideia de que o homem era o centro de todas as coisas.

 A Igreja Católica, por sua vez, enfrentava uma crise de credibilidade, e sua contestação vinha desde a Idade Média. As críticas à Santa Sé tratavam de questões como a quantidade de terras e outras riquezas nas mãos da Igreja, a corrupção dos clérigos, o abuso do poder, etc. Assim, questionamentos eram realizados abertamente. Os precursores da Reforma Wycliff e Jan Huss são demonstrações claras de que a insatisfação com a Igreja Católica se arrastava por séculos.

 O grande questionamento que movia Lutero era a questão da venda de indulgências, isto é, a Igreja pedia doações em dinheiro em troca de perdão pelos pecados. Quando a Igreja tinha objetivos importantes, ela realizava uma venda especial de indulgências e incentivava as pessoas a darem contribuições em troca desse perdão e da garantia de salvação. Lutero também era crítico de outras práticas, como a simonia, isto é, a venda de cargos e funções eclesiásticas. Lutero entendia que essas ações da Igreja Católica iam contra o seu entendimento da fé cristã, porque ele não acreditava na ideia de que a salvação acontecia mediante obras, mas pela fé.

 A insatisfação de Lutero, não tinha como objetivo promover um rompimento ou dividir a Igreja Católica. Ele queria apenas combater práticas que considerava inadequadas para que a fé católica pudesse ser reformada. No entanto, o processo iniciado por Lutero deu abertura para mudanças profundas em questões políticas e econômicas na Europa do século XVI.

 As 95 teses de Lutero foi um documento  escrito por ele como uma proposição de debate para a questão das indulgências. As suas ideias se espalharam rapidamente, sobretudo pelo norte da Europa e pela Europa Central.

Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero supostamente pregou suas 95 teses na porta da igreja de Wittenberg. Tanto as 95 teses como outros documentos escritos por Lutero na época se popularizaram consideravelmente, devido à existência da imprensa. Tal ato estabeleceu um princípio teológico conhecido como Cinco Solas, que são bases importantes para o protestantismo. São elas:

 Sola fide (somente a fé);

Sola scriptura (somente e escritura);

Solus Christus (somente Cristo);

Sola gratia (somente a graça);

Soli Deo gloria (glória somente a Deus).

 Martinho Lutero ainda traduziu a Bíblia do latim para o alemão, uma vez que ele acreditava que os fiéis deveriam ter acesso direto aos textos sagrados. Suas ações influenciaram outros movimentos protestantes na Europa, como o liderado por João Calvino, que originou o calvinismo, e o de Henrique VIII, que originou o anglicanismo.