Capítulo 14
Morte de Sara, mulher de Abraão.
40. Gênesis 23. Algum tempo depois, Sara morreu, com a idade de cento e vinte e sete anos, e foi enterrada em Hebrom, onde os cananeus se ofereceram para lhe dar sepultura. Abraão, porém, preferiu adquirir para esse fim um campo que comprou, por quatrocentos sidos — de um habitante de Hebrom, chamado Efrom —, onde ele e seus descendentes construíram um túmulo.
Abraão desposa Quetura, depois da morte de Sara. Filhos que teve
dela e sua posteridade. Faz seu filho Isaque casar-se com Rebeca,
filha de Betuel e irmã de Labão.
41. Gênesis 25. Abraão, depois da morte de Sara, desposou Quetura e teve dela seis filhos, todos infatigáveis no trabalho e muito ativos. Chamavam-se Zinrã, jocsã, Meda, Midiã, Isbaque e Suá.
Jocsã teve dois filhos, Seba e Dedã, o qual teve
Assurim, Letusim e Leumim. Midiã teve cinco filhos: Efá, Efer, Enoque, Abida e Elda. Abraão aconselhou a todos que se fossem estabelecer em
outros países.
Eles ocuparam a Troglodita e toda aquela parte da Arábia Félix que se estende até o mar Vermelho.
Diz-se também
que Efer, de que acabamos de falar, apoderou-se da Líbia por meio das
armas e que os seus descendentes lá se estabeleceram e a chamaram com o
nome dele: África,
o que Alexandre Poliistor confirma com estas palavras: "O profeta
Cleodemas, cognominado Malque, que a exemplo do legislador Moisés escreveu a história dos judeus, diz
que Abraão teve de Quetura,
dentre outros filhos, a Afram, Sur e lafram: Sur deu o seu nome à Síria, Afram à cidade Afra e lafram à África, e que eles
combateram na Líbia
contra Anteu, sob o comando de Hércules". Ele acrescenta que Hércules desposou a
filha de Afram e que dela teve um filho de nome Deodoro, o qual foi o pai de
Sofo, que deu nome aos sofácios.
42. Cênesis 24. Isaque
tinha mais ou menos quarenta anos quando Abraão pensou em casá-lo, lançando vistas sobre
Rebeca, filha de Betuel, que era filho de Naor, seu irmão. Em seguida, ele
escolheu para ir pedi-la em casamento o mais amigo dentre os seus servidores,
ao qual obrigou por juramento, fazendo-o pôr a mão sob a sua coxa, executar tudo o que
ele lhe ia ordenar. Deu-lhe presentes raros, que seriam admirados num país onde ainda nada
fora visto de semelhante. Esse fiel servidor demorou-se muito tempo antes de
chegar à cidade de Harã, porque lhe foi
necessário atravessar a
Mesopotâmia, onde havia
grande quantidade de ladrões,
onde os caminhos são
muito difíceis
no inverno e onde se sofre muito no verão, pela dificuldade em se encontrar água.
Quando chegou aos arredores da cidade,
avistou várias
moças, que iam ao poço buscar água. Rogou então a Deus que, se
fosse a sua vontade que Rebeca desposasse o filho de seu senhor, fizesse com
que ela se encontrasse entre as moças e que, recusando-se as outras a lhe
darem de beber, ele pudesse conhecê-la pelo ato de gentileza com que o
atenderia. Aproximou-se em seguida dos poços e rogou às moças que lhe dessem água. Todas
responderam que era muito difícil
tirá-la e que dela também precisavam, não podendo assim atendê-lo. Rebeca,
ouvindo-as falar assim, disse-lhes que elas eram bem indelicadas por recusar
aquele favor a um estrangeiro e ao mesmo tempo ofereceu-lhe água com grande
bondade.
Tão favorável início deu ao prudente servidor esperanças de que a sua viagem
lograsse bom êxito.
Ele agradeceu-lhe e, para ter ainda maior certeza de suas conjecturas, rogou-lhe que dissesse quem eram
os que tinham a ventura de tê-la por filha. A isso acrescentou que desejava que
Deus lhe fizesse a graça
de encontrar um marido digno dela, ao qual desse filhos que lhe herdassem a
virtude. A sensata donzela respondeu-lhe, com a mesma gentileza, que se chamava
Rebeca, que seu pai era Betuel e que depois da morte deste Labão, seu irmão, passara a cuidar
dela, de sua mãe
e de toda a sua família.
Então o servo, vendo com grande alegria não haver mais dúvida de que Deus o
assistia no desempenho de sua missão, ofereceu a Rebeca uma cadeia e
outros ornamentos próprios
para donzelas e rogou-lhe que os recebesse como um sinal de gratidão pelo favor que ela,
dentre todas as moças,
tivera a bondade de lhe prestar. Suplicou-lhe em seguida que o levasse à casa de seus
parentes, porque a noite já
se aproximava e, trazendo ele objetos de muito valor, julgava não haver melhor lugar
onde guardá-los
do que na casa dela. Disse ainda que, julgando da virtude de seus familiares
pela que via nela, não
duvidava de que o receberiam, pois não pretendia ser-lhes de peso: pagaria
todas as despesas.
Ela respondeu-lhe que ele não errava fazendo boa
idéia de seus parentes,
mas não lhes fazia muita
honra ao pensar que eles seriam capazes de receber alguma coisa por lhe darem
hospedagem, pois cumpriam de muito boa mente o dever da hospitalidade. Iria em
seguida falar com o irmão
e o traria imediatamente, para se entenderem. Ela foi para casa e fez o que
havia prometido. Labão
ordenou aos servos que cuidassem dos camelos e convidou o hóspede para jantar.
Quando terminaram a refeição, o servo de Abraão disse-lhe:
"Abraão,
filho de Terá,
é vosso parente".
Depois, dirigindo-se à
mãe de Rebeca,
acrescentou: "Naor, avô
dos filhos de quem sois a mãe,
era irmão de Abraão. Abraão é meu senhor. Ele
mandou-me até
vós para pedir em
casamento esta moça
para o seu único
filho, herdeiro de todos os seus bens. Ele poderia ter escolhido uma das
donzelas mais ricas de seu país,
mas julgou melhor prestar essa homenagem aos de sua descendência, em vez de se
aliar aos de uma nação
estrangeira. Secundai, por favor, o seu desejo, e com tanto maior alegria, pois
isso é, sem dúvida, conforme a
vontade de Deus, que, além
da assistência
que me prestou na viagem, me fez encontrar com rara felicidade esta virtuosa
donzela e a vossa casa. Tendo, ao chegar, encontrado diversas moças que iam tirar água do poço, desejava eu uma que fosse do seu número e que a pudesse
conhecer, e assim aconteceu. Portanto,
tendo Deus vos feito ver que esse casamento lhe agrada, poderíeis recusar o vosso
consentimento e não
conceder a Abraão
o pedido que vos faz por meu intermédio?"
Uma proposta tão vantajosa e da qual
Labão e sua mãe não podiam duvidar que
de era agradável
a Deus foi recebida por eles com uma satisfação inimaginável. Então enviaram Rebeca, e
Isaque a desposou, estando já
de posse de todos os bens de seu pai, pois os filhos que Abraão tivera de Quetura
haviam ido se estabelecer em outras províncias.
Capítulo 16
Morte de Abraão.
43. Gênesis 25. Abraão morreu pouco depois
do casamento de Isaque. Foi tão
eminente em toda espécie
de virtudes que mereceu ser muito particularmente querido e favorecido por
Deus. Viveu cento e setenta e cinco anos. Isaque e Ismael, seus filhos,
sepultaram-no em Hebrom, junto de Sara, sua mulher.
Capítulo 17
Rebeca tem dois filhos: Esaú ejacó. Uma grande carestia obriga Isaque a sair do país de Canaã, e ele permanece algum tempo
nas terras do rei Abimeleque. Casamento de Esaú. Isaque,
enganado por Jacó, outorga-lhe a bênção, julgando dá-la a Esaú.
Para evitar a cólera de seu irmão, Jacó retira-se
para a Mesopotâmia.
44. Gênesis 25. Rebeca estava grávida à morte de Abraão, e de maneira tão esquisita que Isaque, temendo por ela, consultou a Deus para saber qual seria o fim daquela estranha gravidez. Deus respondeu-lhe que ela teria dois filhos, dos quais sairiam dois povos, que teriam deles os nomes e a origem. O mais novo, porém, seria o mais poderoso. Viu-se pouco tempo depois o efeito dessa predição. Rebeca teve gêmeos, sendo o mais velho todo coberto de pêlos, e o mais novo segurava-lhe o calcanhar quando vieram à luz. O mais velho chamou-se Esaú, por causa dos pêlos que apresentava ao nascer, e Isaque tinha por ele afeto particular. O mais novo foi chamado Jacó, e Rebeca amava-o muito mais que ao primogênito.
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