As igrejas evangélicas de
hoje estão cada vez mais dominadas pelo espírito deste século em vez de pelo
Espírito de Cristo. Como evangélicos, nós nos convocamos a nos arrepender desse
pecado e a recuperar a fé cristã histórica.
No decurso da História, as palavras mudam. Na
época atual isso aconteceu com a palavra evangélico. No passado, ela serviu
como elo de união entre cristãos de uma diversidade ampla de tradições
eclesiásticas. O evangelicalismo histórico era confessional. Acolhia as
verdades essenciais do Cristianismo conforme definidas pelos grandes concílios
ecumênicos da Igreja. Além disso, os evangélicos também compartilhavam uma
herança comum nos "solas" da Reforma Protestante do século 16.
Hoje, a luz da Reforma já foi sensivelmente
obscurecida. A conseqüência foi a palavra evangélico se tornar tão abrangente a
ponto de perder o sentido. Enfrentamos o perigo de perder a unidade que levou
séculos para ser alcançada. Por causa dessa crise e por causa do nosso amor a
Cristo, seu evangelho e sua igreja, nós procuramos afirmar novamente nosso
compromisso com as verdades centrais da reforma e do evangelicalismo histórico.
Nós afirmamos essas verdades e não pelo seu papel em nossas tradições, mas
porque cremos que são centrais para a Bíblia.
SOLA SCRIPTURA: A Erosão da Autoridade
Só a Escritura é a regra inerrante da vida da
igreja, mas a igreja evangélica atual fez separação entre a Escritura e sua
função oficial. Na prática, a igreja é guiada, por vezes demais, pela cultura. Técnicas
terapêuticas, estratégias de marketing, e o ritmo do mundo de entretenimento
muitas vezes tem mais voz naquilo que a igreja quer, em como funciona, e no que
oferece, do que a Palavra de Deus. Os pastores negligenciam a supervisão do
culto, que lhes compete, inclusive o conteúdo doutrinário da música. À medida
que a autoridade bíblica foi abandonada na prática, que suas verdades se
enfraqueceram na consciência cristã, e que suas doutrinas perderam sua
proeminência, a igreja foi cada vez mais esvaziada de sua integridade,
autoridade moral e discernimento.
Em lugar de adaptar a fé cristã para satisfazer
as necessidades sentidas dos consumidores, devemos proclamar a Lei como medida
única da justiça verdadeira, e o evangelho como a única proclamação da verdade
salvadora. A verdade bíblica é indispensável para a compreensão, o desvelo e a
disciplina da igreja.
A Escritura deve nos levar além de nossas
necessidades percebidas para nossas necessidades reais, e libertar-nos do
hábito de nos enxergar por meio das imagens sedutoras, clichês, promessas e
prioridades da cultura massificada. É só à luz da verdade de Deus que nós nos
entendemos corretamente e abrimos os olhos para a provisão de Deus para a nossa
sociedade. A Bíblia, portanto, precisa ser ensinada e pregada na igreja. Os
sermões precisam ser exposições da Bíblia e de seus ensino, não a expressão de
opinião ou de idéias da época. Não devemos aceitar menos do que aquilo que Deus
nos tem dado.
A obra do Espírito Santo na experiência pessoal
não pode ser desvinculada da Escritura. O Espírito não fala em formas que
independem da Escritura. À parte da Escritura nunca teríamos conhecido a graça
de Deus em Cristo. A Palavra bíblica, e não a experiência espiritual, é o teste
da verdade.
Tese 1: Sola Scriptura
Reafirmamos a Escritura inerrante como fonte
única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência. A
Bíblia sozinha ensina tudo o que é necessário para nossa salvação do pecado, e
é o padrão pelo qual todo comportamento cristão deve ser avaliado.
Negamos que qualquer credo, concílio ou
indivíduo possa constranger a consciência de um crente, que o Espírito Santo
fale independentemente de, ou contrariando, o que está exposto na Bíblia, ou
que a experiência pessoal possa ser veículo de revelação.
SOLO CHRISTUS: A Erosão da Fé Centrada em Cristo
À medida que a fé evangélica se secularizou,
seus interesses se confundiram com os da cultura. O resultado é uma perda de
valores absolutos, um individualismo permissivo, a substituição da santidade
pela integridade, do arrependimento pela recuperação, da verdade pela intuição,
da fé pelo sentimento, da providência pelo acaso e da esperança duradoura pela
gratificação imediata. Cristo e sua cruz se deslocaram do centro de nossa
visão.
Tese 2: Solo Christus
Reafirmamos que nossa salvação é realizada
unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e sua
expiação por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com
o Pai.
Negamos que o evangelho esteja sendo pregado se
a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada e a fé em Cristo e
sua obra não estiver sendo invocada.
SOLA GRATIA: A Erosão do Evangelho
A Confiança desmerecida na capacidade humana é
um produto da natureza humana decaída. Esta falsa confiança enche hoje o mundo
evangélico – desde o evangelho da auto-estima até o evangelho da saúde e da
prosperidade, desde aqueles que já transformaram o evangelho num produto
vendável e os pecadores em consumidores e aqueles que tratam a fé cristã como
verdadeira simplesmente porque funciona. Isso faz calar a doutrina da
justificação, a despeito dos compromissos oficiais de nossas igrejas.
A graça de Deus em Cristo não só é necessária
como é a única causa eficaz da salvação. Confessamos que os seres humanos
nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça
regeneradora.
Tese 3: Sola Gratia
Reafirmamos que na salvação somos resgatados da
ira de Deus unicamente pela sua graça. A obra sobrenatural do Espírito Santo é
que nos leva a Cristo, soltando-nos de nossa servidão ao pecado e erguendo-nos
da morte espiritual à vida espiritual.
Negamos que a salvação seja em qualquer sentido
obra humana. Os métodos, técnicas ou estratégias humanas por si só não podem
realizar essa transformação. A fé não é produzida pela nossa natureza
não-regenerada.
SOLA FIDE: A Erosão do Artigo Primordial
A justificação é somente pela graça, somente por
intermédio da fé, somente por causa de Cristo. Este é o artigo pelo qual a
igreja se sustenta ou cai. É um artigo muitas vezes ignorado, distorcido, ou
por vezes até negado por líderes, estudiosos e pastores que professam ser
evangélicos. Embora a natureza humana decaída sempre tenha recuado de professar
sua necessidade da justiça imputada de Cristo, a modernidade alimenta as chamas
desse descontentamento com o Evangelho bíblico. Já permitimos que esse
descontentamento dite a natureza de nosso ministério e o conteúdo de nossa
pregação.
Muitas pessoas ligadas ao movimento do
crescimento da igreja acreditam que um entendimento sociológico daqueles que
vêm assistir aos cultos é tão importante para o êxito do evangelho como o é a
verdade bíblica proclamada. Como resultado, as convicções teológicas
freqüentemente desaparecem, divorciadas do trabalho do ministério. A orientação
publicitária de marketing em muitas igrejas leva isso mais adiante, apegando a
distinção entre a Palavra bíblica e o mundo, roubando da cruz de Cristo a sua
ofensa e reduzindo a fé cristã aos princípios e métodos que oferecem sucesso às
empresas seculares.
Embora possam crer na teologia da cruz, esses
movimentos a verdade estão esvaziando-a de seu conteúdo. Não existe evangelho a
não ser o da substituição de Cristo em nosso lugar, pela qual Deus lhe imputou
o nosso pecado e nos imputou a sua justiça. Por ele Ter levado sobre si a
punição de nossa culpa, nós agora andamos na sua graça como aqueles que são
para sempre perdoados, aceitos e adotados como filhos de Deus. Não há base para
nossa aceitação diante de Deus a não ser na obra salvífica de Cristo; a base
não é nosso patriotismo, devoção à igreja, ou probidade moral. O evangelho
declara o que Deus fez por nós em Cristo. Não é sobre o que nós podemos fazer
para alcançar Deus.
Tese 4: Sola Fide
Reafirmamos que a justificação é somente pela
graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo. Na justificação
a retidão de Cristo nos é imputada como o único meio possível de satisfazer a
perfeita justiça de Deus.
Negamos que a justificação se baseie em qualquer
mérito que em nós possa ser achado, ou com base numa infusão da justiça de
Cristo em nós; ou que uma instituição que reivindique ser igreja mas negue ou
condene sola fide possa ser reconhecida como igreja legítima.
SOLI DEO GLORIA: A Erosão do Culto Centrado em Deus
Onde quer que, na igreja, se tenha perdido a
autoridade da Bíblia, onde Cristo tenha sido colocado de lado, o evangelho
tenha sido distorcido ou a fé pervertida, sempre foi por uma mesma razão.
Nossos interesses substituíram os de Deus e nós estamos fazendo o trabalho dele
a nosso modo. A perda da centralidade de Deus na vida da igreja de hoje é comum
e lamentável. É essa perda que nos permite transformar o culto em
entretenimento, a pregação do evangelho em marketing, o crer em técnica, o ser
bom em sentir-nos bem e a fidelidade em ser bem-sucedido. Como resultado, Deus,
Cristo e a Bíblia vêm significando muito pouco para nós e têm um peso
irrelevante sobre nós.
Deus não existe para satisfazer as ambições
humanas, os desejos, os apetites de consumo, ou nossos interesses espirituais
particulares. Precisamos nos focalizar em Deus em nossa adoração, e não em
satisfazer nossas próprias necessidades. Deus é soberano no culto, não nós.
Nossa preocupação precisa estar no reino de Deus, não em nossos próprios impérios,
popularidade ou êxito.
Tese 5: Soli Deo Gloria
Reafirmamos que, como a salvação é de Deus e
realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre.
Devemos viver nossa vida inteira perante a face de Deus, sob a autoridade de
Deus, e para sua glória somente.
Negamos que possamos apropriadamente glorificar
a Deus se nosso culto for confundido com entretenimento, se negligenciarmos ou
a Lei ou o Evangelho em nossa pregação, ou se permitirmos que o afeiçoamento
próprio, a auto-estima e a auto-realização se tornem opções alternativas ao
evangelho.
Um Chamado ao Arrependimento e à Reforma
A fidelidade da igreja evangélica no passado
contrasta fortemente com sua infidelidade no presente. No princípio deste mesmo
século, as igrejas evangélicas sustentavam um empreendimento missionário
admirável e edificaram muitas instituições religiosas para servir a causa da
verdade bíblica e do reino de Cristo. Foi uma época em que o comportamento e as
expectativas cristãs diferiam sensivelmente daquelas encontradas na cultura.
Hoje raramente diferem. O mundo evangélico de hoje está perdendo sua fidelidade
bíblica, sua bússola moral e seu zelo missionário.
Arrependamo-nos de nosso mundanismo. Fomos
influenciados pelos "evangelhos" de nossa cultura secular, que não
são evangelhos. Enfraquecemos a igreja pela nossa própria falta de
arrependimento sério, tornamo-nos cegos aos pecados em nós mesmo que vemos tão
claramente em outras pessoas, e é indesculpável nosso erro de não falar às
pessoas adequadamente sobre a obra salvadora de Deus em Jesus Cristo.
Também apelamos sinceramente a outros
evangélicos professos que se tenham desviado da Palavra de Deus nos assuntos
discutidos nesta declaração. Incluímos aqueles que declaram haver esperança de
vida eterna sem fé explícita em Jesus Cristo, os que asseveram que quem rejeita
a Cristo nesta vida será aniquilado em lugar de suportar o juízo justo de Deus
pelo sofrimento eterno e os que dizem que os evangélicos e os católicos romanos
são um em Jesus Cristo, mesmo quando a doutrina bíblica da justificação não é
crida.
A Aliança de Evangélicos Confessionais pede que
todos os crentes deem consideração à implementação desta declaração no culto,
ministério, política, vida e evangelismo da igreja.
Em nome de Cristo. Amém.
Aliança de Evangélicos Confessionais.
Cambridge, Massachusetts
20 de abril de 1996.
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