terça-feira, 10 de dezembro de 2024

RAZÕES PARA A FRUSTRAÇÃO DE UM CONSELHEIRO

O aconselhamento seria mais fácil se pudesse supor que todo aconselhado quer ajuda, e irá cooperar plenamente no aconselhamento. Mas, infelizmente, isto nem sempre acontece. Alguns aconselhados têm o desejo consciente ou inconsciente de manipular, frustrar, ou não colaborar. Esta é uma descoberta difícil para o conselheiro que deseja ser bem sucedido e cujo sucesso depende principalmente da mudança operada no paciente. É sempre difícil trabalhar com pessoas assim, principalmente quando não têm espírito de cooperação. Ao decidirmos ajudar, estamos necessariamente aceitando a possibilidade de luta pelo poder, exploração e fracasso. São pelo menos duas as principais maneiras em que as pessoas frustram o conselheiro e aumentam a sua vulnerabilidade.

MANIPULAÇÃO 

Algumas pessoas são mestras em impor a sua vontade controlando outros. Conta-se a história de um jovem conselheiro que se sentia inseguro e queria agradar. Não desejando ser rotulado como o "conselheiro anterior que não se importava", o jovem conselheiro achava-se decidido a ser útil. As sessões de aconselhamento encompridaram e tornaram-se mais frequentes. Antes de pouco tempo o conselheiro estava dando telefonemas, fazendo pequenos serviços e empréstimos e até compras para o aconselhado, que constantemente expressava sua gratidão e chorosamente pedia mais.

Os conselheiros manipulados geralmente têm pouca utilidade. Os indivíduos que tentam manipular seu conselheiro quase sempre fizeram da manipulação um modo de vida. Eles agem bem e com sutileza, mas não conseguem viver sem praticar o embuste e a arte de dominar. O conselheiro precisa opor-se a essas táticas, recusar-se a ser movido por elas e ensinar meios mais satisfatórios de relacionar-se com outros.

É sábio perguntar-se continuamente:

• "Estou sendo manipulado?"

• "Será que tenho ultrapassado minhas responsabilidades como conselheiro?"

• "O que este aconselhado deseja realmente?"

Algumas vezes as pessoas alegam desejar ajuda com um problema, mas na verdade querem seu tempo e atenção, sua aprovação de um comportamento pecaminoso ou prejudicial, ou seu apoio como aliado num conflito familiar. Outras vezes elas o procuram por acreditarem que cônjuges preocupados, outros membros da família ou empregadores deixarão de queixar-se de seu comportamento uma vez que iniciem o processo de aconselhamento. Quando você suspeitar desse tipo de desonestidade e manipulação, é prudente conversar a respeito com o aconselhado, esperar uma negativa da parte dele, e depois estruturar o aconselhamento de modo a impedir manipulação e exploração do conselheiro no futuro. Lembre-se de que o aconselhamento verdadeiramente útil nem sempre agrada ao aconselhado ou é conveniente para o conselheiro, mas contribui para o amadurecimento do indivíduo que solicitou ajuda. A idéia de que "as pessoas sinceras em seu desejo de aceitar ajuda raramente mostram-se exigentes", desonestas ou manipuladores, é, sem dúvida, verdadeira.

RESISTÊNCIA

As pessoas algumas vezes buscam ajuda por desejarem alívio imediato da dor, mas quando descobrem que o alívio permanente pode exigir tempo, esforço e maior sofrimento ainda, elas resistem ao aconselhamento. Noutras ocasiões os problemas fornecem benefícios que o paciente não quer perder (atenção pessoal de outros, por exemplo, ou compensações pela sua invalidez, menor responsabilidade, ou gratificações mais sutis, tais como castigo ou a oportunidade de tornar a vida difícil para os demais).

Desde que o aconselhamento bem sucedido iria interromper esses benefícios, o aconselhado não coopera. A seguir estão aqueles que adquirem um senso de poder e realização quando conseguem frustrar os esforços de outros - por exemplo, dos conselheiros profissionais. Essas pessoas com frequência convencem a si mesmas: "Ninguém pode me ajudar — mas também o conselheiro que não for bem sucedido comigo não vale nada". O conselheiro continua aconselhando, o aconselhado finge colaborar, mas ninguém melhora.

A resistência é uma força poderosa que quase sempre exige aconselhamento profissional em profundidade. Quando os conselheiros começam a trabalhar, as defesas psicológicas do aconselhado são ameaçadas e isto leva à ansiedade, à ira e a uma atitude de não colaboração por vezes inconsciente. Quando o paciente é relativamente bem-ajustado esta resistência pode ser discutida com brandura e franqueza. Permita que ele ou ela saiba que é responsável (e não o conselheiro) pelo resultado final do processo, obtendo ou não melhora. O conselheiro fornece uma relação estruturada, evita ficar na defensiva, e deve reconhecer que a sua eficácia como conselheiro (e certamente como uma pessoa) nem sempre é proporcional à melhora dos aconselhados.

Foi sugerido que os conselheiros se perdem não apenas quando ignoram a direção que estão tomando, mas também quando não conhecem a si mesmos. Podemos permanecer vigilantes quanto a problemas em potencial quando frequentemente fazemos a nós mesmos (e um ao outro) perguntas tais como:

• Por que acho ser esta a pior (ou melhor) pessoa que já aconselhei?

• Existe uma razão para o meu constante atraso, ou o do aconselhado?

• Existe uma razão para que o aconselhado ou eu deseje mais (ou menos) tempo do que havíamos combinado no início?

• Minhas reações às palavras deste aconselhado são excessivas?

• Sinto-me aborrecido quando estou com esta pessoa? O problema sou eu, o aconselhado, ou nós dois?

• Por que eu sempre concordo (ou discordo) com o aconselhado?

 • Sinto vontade de terminar esta relação ou de apegar-me a ela embora devesse terminar?

• Estou começando a sentir demasiada simpatia pelo aconselhado?

• Penso constantemente no aconselhado entre as entrevistas, sonho acordado com ele ou ela, ou mostro mais do que o interesse comum no seu problema? Por quê?

 

Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)

(Parte 6) Acompanhe as demais postagens.


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