Sempre que duas pessoas trabalham juntas em direção a um alvo comum, surgem sentimentos de camaradagem e cordialidade entre elas. Quando esses indivíduos possuem um estilo de vida similar (ambiente semelhante), e especialmente quando são do sexo oposto, os sentimentos calorosos quase sempre incluem um componente sexual. Esta atração sexual entre conselheiro e aconselhado foi chamada de "problema ignorado pelos clérigos". Trata-se, porém de um problema que quase todos os conselheiros enfrentam, quer falem ou não sobre ele com outros.
O aconselhamento frequentemente envolve a
discussão de detalhes íntimos que jamais seriam tratados em outro lugar —
especialmente entre um homem e uma mulher que não são casados um com o outro.
Isto pode despertar sexualmente tanto o conselheiro como o aconselhado. O
potencial para a imoralidade pode ser ainda maior se o aconselhado é atraente
e/ou tende a mostrar-se sedutor, se o aconselhado indicar que ele ou ela
necessita realmente do conselheiro, e/ou se o aconselhamento envolver
discussões detalhadas de informações sobre o despertamento sexual.
Tais influências sutis escreveu Freud há muitos anos atrás,
"acarretam o perigo de fazer o homem esquecer-se de sua técnica e tarefa
médica a favor de uma experiência agradável". É provável que todo leitor
deste livro conheça conselheiros, inclusive pastores-conselheiros, que
transigiram com seus padrões "a favor de uma experiência agradável" e
descobriram que seus ministérios, reputação, eficácia de aconselhamento e
talvez seu casamento acabaram sendo destruídos como um resultado disso — sem
falar sobre os efeitos negativos que isto pode ter no aconselhado.
O AUTOCONTROLE DO CONSELHEIRO
A atração sexual por um aconselhado pode se tornar comum se o conselheiro prudente não se esforçar ao máximo para exercer autocontrole.
PROTEÇÃO ESPIRITUAL
A meditação sobre a Palavra de Deus, a oração (incluindo a intercessão
de outros) e a confiança na proteção do Espírito Santo, são elementos
importantíssimos. Além disso, os conselheiros devem vigiar sua mente. A
fantasia muitas vezes precede a ação e o conselheiro sábio cultiva o hábito de
não demorar-se em pensamentos luxuriosos, mas focalizá-los naquilo que é
verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e bom.
Encontrar outro crente a quem você possa prestar contas regularmente de seus atos também é de muito valor. Isto pode ter um impacto poderoso em seu comportamento. Finalmente, tenha cuidado em não cair na perigosa armadilha de pensar: "Isso acontece com outros, mas jamais aconteceria comigo". Esta é a espécie de orgulho que no geral precede a queda na tentação. Ele ignora o mandamento bíblico de que ele (ou ela) que pensa estar de pé deve cuidar para não cair.
E, se você cair? Servimos a um Deus que perdoa, embora as cicatrizes — na forma de uma reputação arruinada ou um insucesso no casamento, por exemplo — possa durar a vida inteira. Se confessarmos qualquer pecado recebemos perdão, mas temos depois a obrigação de modificar daí por diante nosso comportamento a fim de fazê-lo mais coerente com as Escrituras.
PERCEPÇÃO DOS SINAIS DE PERIGO
Num livro inteiro dedicado aos sentimentos sexuais do conselheiro e
aconselhado, Rassieur indicou várias pistas que podem apontar para uma mudança
potencial do profissionalismo do aconselhamento para uma intimidade perigosa.
Isto inclui:
• A
comunicação de mensagens sutis de qualidade mais íntima (sorrisos, levantar as
sobrancelhas, contatos físicos, etc);
• O
desejo do conselheiro e aconselhado de manterem o relacionamento;
•
Ansiedade, especialmente por parte do aconselhado, de divulgar detalhes de
experiências ou fantasias sexuais;
•
Permissão do conselheiro para que o aconselhado o manipule;
•
Reconhecimento por parte do conselheiro de que ele ou ela precisa ver o
aconselhado (este é um sinal de fracasso);
•
Frustrações crescentes na vida conjugal do conselheiro; e
• O prolongamento do tempo e frequência das entrevistas, algumas vezes suplementadas por chamadas telefônicas.
Quando a atração sexual se faz presente e é reconhecida, o conselheiro pode interromper o aconselhamento, transferir o trabalho para outra pessoa, ou até mesmo discutir esses sentimentos com o aconselhado. Antes de qualquer coisa, porém, é melhor estabelecer certos limites definidos, prescrevendo claramente a frequência e duração das sessões de aconselhamento e apegar-se a esses limites;
•
Recusar conversas telefônicas prolongadas;
•
Desencorajar discussões detalhadas de tópicos sexuais;
•
Evitar (atenção!) o contato físico; e
• Encontrar-se num lugar que desestimule olhares eloquentes ou intimidades pessoais. A maneira de sentar-se, sem aproximar-se demasiado do paciente também é importante.
ANÁLISE DE ATITUDES
Não existe proveito algum em negar os seus instintos sexuais. Eles são comuns, com frequência embaraçosos e bastante estimulantes, mas controláveis. Lembre-se do seguinte:
• As
Consequências Sociais: Ceder à tentação sexual pode arruinar a reputação da
pessoa, seu casamento e eficácia como conselheiro. Esta compreensão pode agir
como um importante impedimento.
• Imagem Profissional: Lembre-se de que você é um conselheiro profissional e, pelo menos se espera, um homem ou mulher de Deus em direção ao amadurecimento. As intimidades sexuais com os aconselhados jamais ajudam as pessoas com problemas nem beneficiam o trabalho profissional do conselheiro.
•
Verdade Teológica: O envolvimento sexual fora do casamento é pecaminoso e deve
ser evitado. É verdade que as circunstâncias influenciam nosso comportamento
presente e as experiências passadas podem limitar nossas opções correntes, mas
isso não nos absolve da responsabilidade. Cada conselheiro e aconselhado é
responsável pelo seu próprio comportamento.
• Escreve o psiquiatra Vicktor Frankl, "não é complementarmente condicionado e determinado; ele decide por si mesmo se vai ceder ou opor-se às condições... Todo ser humano tem liberdade para modificar-se a qualquer momento." Podemos alegar que "o diabo me obrigou a isso", mas o diabo só tenta. Ele nunca nos obriga a fazer nada. Nós decidimos pecar, deliberando e agindo contrariamente à orientação do Espírito Santo, que reside no interior do crente e é maior que Satanás. É importante que tanto conselheiros como aconselhados compreendam isto.
Fonte: Curso de Clínica Pastoral (IBADERJ)
(Parte 7) Acompanhe as demais postagens.
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